Dia desses ouvi uma palavra que há muito não escutava: Platéia. Alguém que conheço vociferava a respeito de alguém que a havia irritado, e disse “porque é só que você está e é assim que você vai ficar se continuar agindo dessa forma, e no final o seu precioso Ego não vai resistir a falta de platéia...” . Isso me fez pensar um pouco a respeito do seu desabafo.
Não digo do desabafo em si (todos nós temos nosso momento pomba-gira, dá à louca e viramos o capeta na Terra; eu mesma tenho vários desses momentos); mas sobre esse trecho em particular.
Quem seria essa Platéia? Não seríamos apenas nós mesmos a nossa platéia? Ao fazer esse desabafo, não estaria ela mesma ‘atrás de uma platéia’? Diga-se de passagem, a mesma que ela condenou? Esse conceito de platéia pode ser interessante. Mas aqui apenas mostrarei a minha visão, ok?
Quando criamos uma conta no Twitter, a nova onda da era sócio-virtual, ou em um Facebook, ou em um Orkut, entre várias outras opções disponíveis, estamos em busca de um estreitamento. Queremos nos aproximar, mesmo que de um modo artificial, de outras pessoas.
Fazemos isso porque sentimos falta do contato, do alô amigo, daquele momento de troca de carinho, ou mesmo de palavras, diário. Através desses artifícios, conseguimos realizar esse contato, durante o dia, semana, ou mês.
Quando criamos esses perfis, buscamos adicionar o maior número de pessoas possível. Buscamos desde nossos amigos íntimos, companheiros de turma, colegas de trabalho, até chegarmos ao extremo de buscar pessoas que conhecemos quando estávamos na pré-escola, ou que vimos uma única vez e que, provavelmente, jamais voltaremos a ver.
Pelo que compreendi pelo trecho, esta seria a definição de platéia, na opinião dessa pessoa.
Um fato, que acredito que foi esquecido quando a pessoa escreveu isso, é que até mesmo a platéia tem o direito de assistir ou não um show. Ela pode aceitar ou negar aquilo. A vida é feita de escolhas, e até uma platéia tem a sua.
Se uma pessoa não tem interesse de ler algo, o que ela faz? Fecha o livro. Busca outro entretenimento. Sai da sala. Ela toma uma atitude, e pára aquela ação que deixou de ser-lhe prazerosa.
Quando uma platéia está insatisfeita com um espetáculo, ela se retira. Exige seu dinheiro de volta. Não volta mais àquele show. Passa a ignorar o artista. Mas não cria um número e começa a apresentá-lo junto com o artista. Não se torna parte da peça. Faz exatamente o contrário do que ela fez.
Na minha visão, a única platéia que temos, de verdade, somos nós mesmos. As outras pessoas que nos rodeiam são apenas companheiros de viagem. Estão no mesmo trem que nós, fodidos e mal pagos, esmagados no seu pedaço (porque trem no Brasil é sempre assim, 20 pessoas por m²), esperando pacientemente chegar ao destino final, mas cada um na sua, seguindo o seu caminho.
O que nós fazemos ou deixamos de fazer, apesar de nos esforçarmos para manter as aparências, só nós mesmos sabemos. Nosso show é particular, mas dissimulamos que é público.
Na música Quatro Vezes Você do Capital Inicial, eles dizem: “O que você faz quando ninguém te vê fazendo...Ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?”. Nós apenas somos nós mesmos quando não estamos expostos. Quando estamos em casa, em nossas camas. Sentados nos nossos sofás. Cantando em nossos chuveiros. Pensando, falando, agindo sozinhos. É nesse momento que nossa única platéia entra em cena. E assiste a vida real.
Quem escreve pensando nos outros, ou como suas palavras podem atingi-los, ou como pode influenciá-los, não busca uma platéia. Busca interagir com um embuste, usa o texto como um truque para escapar da realidade.
Aquele que escreve para si, sem pretensão, consciente de que a única pessoa que tem que se importar com algo é ele mesmo; o que usa o texto como uma forma de expressar o que sente, sem se importar em agradar ninguém, a não ser si mesmo, esse sim sabe que a pessoa mais importante em seu auditório jamais o abandonará.
Para a pessoa que trouxe de volta o conceito ultrapassado de platéia, o único conselho que pude dar é de que tudo isso vai passar. Sempre passa no final. Só posso desejar sorte, e continuar meu caminho.
No fim do dia... Platéia por Platéia, escolha aquela que realmente vale alguma coisa. Seu show é único, e você merece sempre mais. Protagonize sua história, enrede sua vida, e não se esqueça de se aplaudir no final.
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